casa da lulu: setembro 2004

quinta-feira, setembro 30, 2004

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crianças, minha pacença está no fim. Já tentei de tudo: coloquei outro template, mexi nesse, troquei tamanho de letra e a josta não volta pro lugar.
Aí copiei o template em outro blog (igualzinho, igualzinho) e lá ele funciona.
A solução mais simples é escolher outro template e pronto, problema resolvido. Só tem um detalhe: eu gosto desse template.
E claro que isso tinha que acontecer logo hoje, que estou numa correira sem fim.
+
Cida e Ming, muito obrigada pela ajuda.
minha nossa senhora do template teimoso, valei-me!

quarta-feira, setembro 29, 2004

o template enlouqueceu. SOCORRO.
algumas coisas que ningém precisa saber -- parte I

+ para espancar qualquer dúvida: moro em Belford Roxo, no Rio de Janeiro
+ a vida inteira brigo com a balança. E ela está vencendo disparada
+ sou uma tola romântica tinhosa com ataques esporádicos de fúria
+ tenho mania de marcador de página; pode ser delicado, feio, sofisticado, com propaganda de lançamento de livro, tanto faz
+ tive depressão duas vezes e fiz terapia
+ solteirice involuntária
+ estudei piano clássico por dez anos -- e não tenho mais piano em casa
+ advogada. Já fui professora e funcionária pública
+ me pediram em casamento três vezes. Aceitei uma
+ ja fiz pedido de casamento e enviei flores para namorado
+ prefiro o inverno

terça-feira, setembro 28, 2004

de repente nossas pernas
viraram cordas
se entrelaçaram
e criaram dois nós

atados pela luxúria
fizemos o que restava
e o foi o que sobrou

quando tentamos nos separar
tropeçamos em nós
mesmos


nós, de Pedro Tostes [poema retirado do livro o mínimo, publicado pela Ibis Libris]

segunda-feira, setembro 27, 2004

Ninguém perguntou. Mas eu sou tagarela e vou contar mesmo assim: já sei colocar linha na máquina de costura, tirar as medidas (tem macete, tem macete!) e fazer um moldezinho de saia bem básico (molde de papel, que é pra não ter dúvidas. Uma aula só!)
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Lúcia, a professora, ficou me olhando com cara de paisagem quando perguntei o que era carretilha até entender que eu realmente não sabia o que era uma carretilha.
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Agora fico brincando com meu material de aula, toda toda. Jardim de infância é pouco.
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Diliça.
Domingo saio com o carro para ir à prática e ainda perto de casa ouço um tóque-tô-tóque; tóque-tô-tóque; tóque-tô-tóque. Dois segundo de pânico. Não queria deixar de ir, mas são 63,4km só de ida. E nem preciso dizer que meus conhecimentos mecânicos se limitam a trocar pneu. *pensa rápido, Lu * pensa rápido, Lu* Será que é o plástico?
abre parêntesis
sábado tinha um pedaço de plástico gigante na pista da Dutra e eu não tive como desviar. Não vi o plástico voando pelo retrovisor e pensei que o dito talvez tivesse enrolado na roda. Parei o carro no acostamento, liguei o alerta e olhei, olhei, olhei. Nada. Uns duzentos quilômetros depois cheguei ao
abre parêntesis
fecha parêntesis

Como estava perto do posto que sempre abasteço, parei, saí do carro, ohei, olhei, olhei. Nada. Mas será o benedito?
Parei perto da bomba, expliquei o que aconteceu e pedi ajuda (bem mulherzinha mesmo). Um dos frentistas deitou no chão (!) para olhar por baixo do carro -- eu olhei, olhei, olhei, mas não tinha deitado no chão; pouco demais, né? Nada nessa roda, nada naquela, nada na outra. Ah, tá aqui, ó. E dá-lhe puxar plástico. E como estava bem enroladinho. Uma montanha de lixo plástico.
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Tem coisas que o dinheiro não compra. Não compra, mas agrada. Claro que dei gorjeta pros rapazes; eles não pediram, nem insinuaram. Mas só obrigada pela ajuda era pouco e eu fiquei sinceramente agradecida.
Finalmente voltei à prática. E domingo ainda teve repeteco.
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Continuo encantada com a cadência e sonoridade do tchenrizi. E com dificuldades em acompanhar o mahakala. É lindo, com direito a instrumental e gestual -- e ráááááápido...
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Aos desavisados: minha dificuldade não é com a prática em si. É com o tibetano (todas as práticas são em tibetano). Aí vocês perguntam como assim em tibetano? Assim: as sadhanas são em tibetano (com aquela grafia de minhoquinha); tem a pronúncia das palavras embaixo e a tradução embaixo do embaixo. Aí é ficar com os ouvidos bem atentos na pronúncia do lama e do khenpo, com um olho na sadhana e outro no gestual.
É batata. Sempre que leio esse moço penso que é exatamente o que gostaria de ter escrito.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Estou atrasada com os comentários, eu sei. Até amanhã a casa fica em ordem.
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Quando a esmola é demais o santo desconfia [e eu também]: não tive uma única crise de rinite durante o inverno inteiro, graças à homeopatia. Tempo demais, felicidade demais.
Essa semana fiquei descompensada com um sonho horroroso, acordei no meio da noite assustada. Na mesma hora começou o show de horror: espirros, coriza, dor de cabeça e preocupação. No dia seguinte piorou muito, nem fui trabalhar.
Falem os médicos o que quiserem, rinite é pura emoção descompensada.
E como tudo tem hora pra acontecer, a consulta já estava marcada [ontem].
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Sincronicidade é pouco.
... eu não preciso de muito dinheiro / graças a deus ....

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e mesmo assim está foda.

quarta-feira, setembro 22, 2004

"(...) Por exemplo, aquela fila no banco -uma simples fila de banco- que nos tira toda paz, que nos dobra e nos faz adiar o projeto de felicidade perfeita. Ora, ser feliz é saber conviver com a imperfeição de nosso destino. Ser feliz é, em grande parte, permitir que as infelicidades da vida também aconteçam. E que depois passem. (...)

post sumariamente deletado para evitar que intrusos caiam aqui depois de psicopatizarem meu nome todo (de verdade!) através de sítios de busca.

terça-feira, setembro 21, 2004

Nem contei que fui na Primavera dos Livros, né?
Uma palavra: m a r a v i l h o s a.
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Uma palavra depois: f a l i d a. Como resistir a livros com preço médio entre 15 e 30 irreais? E comprei um livrinho de poesia (está no diminutivo porque ele é de pequena dimensão, não que seja pequeno de conteúdo) do Pedro Tostes, chamado o mínimo por dois irreais! Uma delícia.
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Assisti a mesa sobre Poesia Oriental, com Atiq Rahimi [e que homem charmoso! ]
Dentre os participantes da mesa, Marcos (ou Mauro? ai, não lembro o nome dele, depois eu edito o post) que morou no Iraque por mais de um ano no final da década de 1970 e relatou suas impressões sobre as pessoas e o país. O melhor da noite foi um comentário seu:
O Iraque foi o lugar mais exótico que já conheci. Depois de São Paulo, claro.
via msn
Luzia diz: falando em sesc, te contei que vou fazer um curso no senac? to toda animada
Binho de Gmail!!!!! diz: contou não. do que?
Luzia diz: moldes e costura. Que há muito tempo quero aprender a costurar, pelo menos um pouquinho, pra conseguir fazer uma almofada, por exemplo
Binho de Gmail!!!!! diz: eu ia perguntar se era "corte e costura"pra te sacanear... e é mesmo!!!
Luzia diz: ahahahahaha acertou
(isso vai bem virar post)

Binho de Gmail!!!!! diz: almofada da lulu
Luzia diz: bom nome pra um futuro blog, né?
Tenho escrito muito, especialmente à noite, já na hora de dormir. Pego lápis, folha sem pauta e escrevo, escrevo, escrevo. Depois leio. Não, não está bom; pessoal demais, prolixo demais, chato demais. E as folhas vão ficando de lado...
+
Aí fico sem postar porque o assunto foi engavetado.
+
E vejo que preciso comprar um caderno no melhor estilo meu querido diário.

domingo, setembro 19, 2004

Receita de Crème brûlée, retirada daqui [ou como fazer um piromaníaco feliz]

7 gemas
500 g de creme de leite fresco
2 colheres (chá) de essência de baunilha
1 colher (sopa) de açúcar

Passe as gemas pela peneira. Acrescente o creme de leite, a essência de baunilha e o açúcar. Leve ao fogo em banho-maria de água fervente, mexendo sempre até engrossar. Distribua em forminhas de
louça individuais e leve à geladeira por 2 horas, até ficarem firmes. Salpique com açúcar e QUEIME COM UM MAÇARICO. Leve à geladeira até a hora de servir.

Para 6 a 8 pessoas

sábado, setembro 18, 2004

Essa semana tinha uma matéria numa dessas páginas do msn dizendo que os jovens estão solteiros por opção [e aparentemente felizes], que isso é uma tendência mundial, irreversível, crescendo a cada ano. Vários depoimentos. Solteiros convictos, não ao casamento, namoros apenas eventuais. Não consegui encontrar a matéria de novo, tsc. Alguém já fez comentário sobre essa matéria em algum blog; não lembro qual foi, desculpe.
[editado: foi a Giorgia, lembrei]
[editado novamente: a matéria é essa aqui]
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Quinta-feira fiz um comentário bobo e ouvi isso desse moço: qual o seu problema com meiguice?
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Pensando sobre o texto e a pergunta, vejo que preciso deixar algumas coisas bem claras pra mim mesma. E, dentre outras coisas, um blog também serve pra isso: clarear a mente, ampliar horizontes. Mas isso é assunto pra outro post.
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Não tenho problemas com meiguice.
Sou mais meiga que gostaria e menos do que poderia. Isso é bom e ruim. Estranho, né?
O ruim é que me sinto menos forte, menos decidida e menos madura por ser assim. Sensação de fragilidade. Embora saiba que muitos dos que possuem essas qualidades sejam ternos, gentis, meigos.
Aí fico com os olhos marejados vendo Camila e Pinck dormindo. Ou fico parada no meio da rua babando por um ipê florido ou uma maria-sem-vergonha na beira de uma calçada. E me dá uma saudade de ir à São Paulo nessa época, com dezenas de árvores e flores floridas pelo caminho, um arco-íris de emoções. E lembro de tantos bons momentos, dos meus amigos, minha família, Friburgo, das risadas, confidências, aquele amor calado no fundo do peito.
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Uma mísera flor faz meu mundo girar.
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Poderia ser mais meiga. Se fosse, seria mulherzinha total. Falta coragem.
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Mulheres foram submissas por milênios. Todo blablablá que sabemos de cor. Revolução dos costumes, valores trocados [por quais mesmo?]
Tá certo, submissão é uó, ser amélia total é impensável. Nada de depender de ninguém, muito menos da boa vontade do marido.
O que não quer dizer que eu queira ser solteira. Estou solteira, é diferente.
Como uma entresafra.
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Porque gosto de gostar, de estar apaixonada, de amar; andar de mãos dadas, apreciar o pôr-do-sol, ligar no final do dia pra saber como foi aquela reunião; tomar banho juntos, cafuné nos cabelos, dormir colherinha; assistir um filme, conversar potoca*. Dançar agarradinho na penumbra da sala aquela música que parece ter sido feita só pra nós dois.
E casar. Sim, ca-sar. Aquela convenção social cafona e demodè. E aquela cerimônia linda, onde se celebra o amor, a união, a felicidade e esperanças de um vida longa, harmoniosa e feliz.
E uma casa grande, com quintal e jardim. Ou pequenina, com muito espaço para sonhar.
Ipê roxo e flamboyant perto da garagem; coqueiro do lado do portão; o bouganville (se escreve assim?) nos fundos, perto da porta da cozinha. E ter o prazer de bordar a cortina da sala e as almofadas do sofá. Colher uma rosa pro vaso da sala e uma margarida pro quarto.
Receber os amigos, fazer churrasco com farofa e maionese, um fondue nos dias mais frios.
E filhos. Ah, crianças. Correndo pela casa, fazendo bagunça, me enlouquecendo com as notas do colégio, brincando de viver e ser feliz. Risadas dando piruetas no ar, enchendo a casa de alegria. E descobrir que Pedro (ou Antônio ou Rafael) tem o sorriso encantador do pai; e Manuela (ou Beatriz ou Carolina) tem o andar do avô.
E daqui a muitos anos quando crescerem e tiverem também seus filhos, construir um par de balanços e admirar os netos brincando, num eterno recomeçar.
Envelhecer juntos, comemorar bodas de ouro; depois, de diamantes. (Re)escolher aquele amor e felicidade, com todas as suas dificuldades, a cada dia.
+
De que me adianta tanta liberdade, independência e o escambau sem isso?
+
Antiquada ou retrógrada, ah, o título não me importa. É exatamente isso o que quero. Claro que o roteiro pode ser adaptado. A essência permanece; porque sou assim - é minha natureza mais profunda e genuína.


*expressão deliciosa da xará de blog Luciana; estava só esperando a oportunidade de usar :o)

quinta-feira, setembro 16, 2004

Um ano normal tem 365 dias. 2004 é bissexto, com 366 dias. Com tanto dia disponível, os bancários escolheram justo hoje pra fazer greve. Humpf :(

quarta-feira, setembro 15, 2004

Façam figas e mentalizem energias positivas amanhã.
... - pois dizendo o nome das coisas começamos a ter controle sobre elas - ...

Lya Luft, Perdas & Ganhos, p. 63

terça-feira, setembro 14, 2004

Levai-me aonde quiserdes.
Aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar
sempre inteira.


Levai-me aonde quiserdes, Cecília Meirelles.


[para Claudio]
esses posts não querem parar de soluçar, cáspita.
Isso me dá frio no estômago.
a faxina

Ontem (segunda): chego no escritório. Limpo, cheiroso, tudo impecável, resultado da faxina no sábado. Na minha mesa dou falta de algumas bolinhas de cerâmica que ficam em um prato (pingo essência nas bolinhas de cerâmica e a sala fica com um cheiro maravilhoso). Na faxina anterior já havia percebido o sumiço de umas bolotas. Com sangue nos olhos, entro em um dos banheiros: meu condicionador também sumiu. O shampoo já havia se desintegrado da outra vez. Meu sangue ferveu. Não pelo que sumiu, que não passam de coisas. O que ela não sabe, é que poderia ter me pedido o shampoo e o condicionador, e também uma ou duas bolinhas, que eu teria dado. Ela levaria com o meu consentimento e não sem ele. Me senti traída, apunhalada. E isso não é um exagero.
A decisão é passional e óbvia: não a quero mais lá, nem pintada de ouro. E não devo explicação alguma; até porque se perguntar, ela vai me jurar de pés juntos que não foi ela, vai chorar, fazer uma cena patética que não vai me comover.
Penso que se estivesse em algum desses países do Oriente Médio, ela teria a mão cortada fora, em praça pública. Sei que é cruel, horrível, e que já me arrependi de ter pesando isso. Ah, mas adorei ter imaginado a cara dela sendo presa.
Sim, crianças, eu tenho medo de mim mesma quando estou com raiva.



Morri de rir, imaginando a cara de da rainha.

domingo, setembro 12, 2004

De repente, impaciência. Respirar fundo; aquietar a mente; acalmar o coração; ficar uns minutos sozinha e em silêncio. Se não funcionar, amanhã melhora e ninguém terá sofrido com meu humor.
Eis a transcrição da entrevista de Contardo Calligaris na Bons Fluidos de setembro.


A ultima viagem

Esta reportagem é dedicada a um tema muito pouco prestigiado: a morte. Quando não está no cinema ou nos jornais, esse assunto - tão amplo quanto profundo - causa, de pronto, aversão. Mas não feche a revista. Você não é o único a sentir o maior dos medos deste nosso tempo. Viver bem é a principal condição para aceitar o fim. Como aponta Contardo Calligaris, psicólogo italiano radicado em São Paulo, nesta entrevista a Bons Fluidos exclusivamente sobre o tema, que envolve felicidade, amor e muito prazer.
Vivemos e depois morremos. Certo? Errado. A morte não vem depois da vida, mas acontece o tempo todo, em conexão simultânea com o prazer de viver e de amar.
Para falar desse assunto tão amplo e profundo, escolhemos o psicólogo italiano Contardo Calligaris por vários motivos. Além de ser psicanalista, doutor em psicologia clínica, colunista do jornal Folha de S. Paulo, autor de seis livros e membro do Instituto de Estudos da Violência de Boston, ele cresceu entre os escombros da Segunda Guerra Mundial. Adolescente, fugiu para a Inglaterra, durante dez anos manteve consultórios em São Paulo, Boston e Nova York (ao mesmo tempo!) e viveu em vários países. Essa história de vida o presenteia com uma visão multicultural muito ágil e uma larga experiência em despedidas.
Durante duas horas, ele falou da morte e dos aspectos que envolvem a última viagem -- dos fatores históricos ao luto, do sexo à genética, do amor à ordem natural dos ciclos.
Calligaris revela o que faria se tivesse apenas um dia de vida e provoca: "O que você não deixaria de fazer se vivesse para sempre?"


Bons Fluidos - Pois é, ninguém quer saber da morte. A história explica esse medo?
Contardo Calligaris - Esse é um fenômeno recente. Talvez desenvolvido nos últimos 200 anos. A partir daquele momento, culturalmente o indivíduo tornou-se mais importante que a comunidade e a morte tornou-se apavorante. Por exemplo, para o homem da Idade Média saber da morte e prepará-la era muito importante e tranqüilo. A pessoa desaparecia, mas o sistema, a família, a cidade, a tradição, tudo continuava. Era confortante, pois a memória estava preservada, não era o fim de tudo. Porém, se hoje eu dissesse você vai morrer, mas São Paulo e a avenida Paulista vão continuar existindo, isso não seria um consolo.


BF - O que provocou a mudança do foco coletivo para o individual?
CC - Ela se preparou ao longo do fortalecimento do cristianismo, porque o deus cristão lida com cada uma das pessoas. Não é o deus de romanos, paulistas, cariocas - é o deus que fala com você. Esse foi um grande impulso para o individualismo. Depois vieram outros fatores, como a descoberta das Américas e as correntes de imigração, pois o imigrante é um desterrado e sempre carrega o sentimento de solidão. Antes disso, os cemitérios eram dentro das cidades, na praça ao redor da igreja central. A idéia de levar os mortos a lugares distantes do mundo dos vivos é moderna e traz inquietação, temor, espanto.


BF - A própria morte virou um fantasma porque ela é a grande niveladora?
CC - Ela é o fim do indivíduo, e esse é o maior medo. Há cada vez mais pessoas que sentem, de maneira aguda e dolorosa, não só a proximidade da própria morte mas também quando o mundo vai acabar.


BF - Mesmo sabendo que isso está previsto para daqui a 15 milhões de anos?
CC - Claro. Tanto quanto a morte individual, essa é uma fonte de angústia impressionante, pois é uma imagem da anulação definitiva. A complicação maior é, então, dar significado à vida como indivíduo, o que conta é o que eu fui capaz de realizar. Deixamos filhos, amigos, marcas, mas a gente não se consola com isso.


BF - É fugaz também, não é?
CC - Sim. Poderíamos nos sentir bem pensando que produzimos em nossos filhos efeitos imponderáveis e muito grandes. E nem sempre são os melhores... (risos) Por piores que sejam, deixamos marcas nos amigos, nos filhos dos amigos, e alguma coisa disso vai passar para os filhos deles. É preciso ter uma sabedoria muito grande para se consolar com isso, o que não é a sabedoria de nossa cultura.


BF - É uma sabedoria oriental?
CC - Sim, oriental. Absolutamente certa, e também uma sabedoria da cultura ocidental de outras épocas.


BF - Você disse que já teve um câncer. Saber que vai morrer ou ter uma doença grave mudam alguma coisa?
CC - Não quero falar de minha experiência pessoal. Detesto essas referências, que reforçam os traços narcisistas a fim de servir de exemplo para alguma coisa. Mas é claro que existe diferença entre o saber vago e geral da mortalidade e uma informação específica sobre a limitação do tempo de vida. Normalmente, estando fora da questão, pensamos que ou nos mataríamos logo ou transformaríamos o resto de vida em uma grande orgia. Mas isso, de fato, não acontece. As pessoas que acompanhei de perto não quiseram deixar de viver. Elas aproveitaram para se preparar (não apenas indo ao cartório determinar quem seriam os herdeiros) e tiveram tempo de se despedir das coisas e das pessoas, de fazer o que achavam essencial. Pode ser triste, mas não tem nada a ver com a depressão. E se foram em paz.


BF - Isso vale para os jovens?
CC - Saber sobre a morte aos 18 anos não é a mesma coisa que aos 80. A velhice traz a sensação da proximidade do fim sem drama, de forma mais natural. Nessa idade, é mais fácil ter acesso a uma espécie de sabedoria que diz: se tenho de aceitar o fato, a única coisa a fazer é alimentar a sensação de ter vivido bem a vida que tive. Já aos 18 anos, a pessoa vai ter mais dificuldade com o real, vai achar que está sendo privada de uma parte importante da experiência e terá de, ao menos, pensar em descer do ônibus bem antes do fim da linha. A morte precoce é mais complicada, mas no fundo o bem-vivido não depende da idade.


BF - Como assim?
CC - A dificuldade é o conceito do bem-viver. Há três ou quatro gerações, isso queria dizer ter criado família, filhos, ter feito o possível para prover e educar. Hoje, não basta. Temos de cumprir o dever de ter sido feliz. Não há nada de babaca nisso. Não quer dizer ficar apenas rindo e evitar os sofrimentos, mas carregar a sensação de que o tempo vivido foi uma experiência com momentos tristes e alegres e, por sua intensidade, valeu a pena.


BF - O que significa esse "valeu a pena"?
CC - É difícil dizer. Acho que é um pouco o que espero que a psicoterapia produza, que você seja feliz no sentido corriqueiro da expressão, que se autorize a viver plenamente, inclusive as coisas mais dolorosas. A experiência da vida merece ser intensa. E isso também não depende da idade. Já me aconteceu de trabalhar com pais de adolescentes que morreram, e com eles aprendi algo importante que vale para pais de adolescentes que estão muito bem: os jovens não são seres para o futuro, não devem sacrificar os prazeres desta época para um dia serem adultos. Não, os adolescentes são pessoas como nós, que estão vivendo o presente. Isso dá o justo equilíbrio na hora de educar, limitar, decidir sobre a permissão de algo. É interessante pensar se até hoje seu filho levou uma vida que valeu a pena ou está esperando os 25 anos para começar a ser gente. Claro, isso não significa deixar que nosso adolescente se torne um Cazuza. Digo isso sem nenhuma crítica, pois acho que ele teve uma vida possível, porém a intensidade foi destrutiva. E, mesmo assim, morreu dizendo que tudo tinha valido a pena.


BF - Há uma parábola budista em que o discípulo pede que o mestre lhe dê uma bênção. E este diz: que seu avô morra antes de seu pai, que seu pai morra antes de você, que você morra antes de seu filho. O aluno protestou, pois queria uma bênção e não palavras de morte. Então, o mestre disse: a ordem natural é a maior dádiva da vida.
CC - Sim, é engraçado. Há mesmo uma ordem natural das coisas. Somos condenados a fatores genéticos e somos moldados pela cultura a fazer, mais ou menos, o luto de nossos pais. Ninguém sabe fazer o luto dos filhos. Além da dor da perda, essa inversão atormenta muito quem fica.


BF - Mas existe algum luto fácil?
CC - Essa é outra fase que perdeu o sentido em nossa cultura. Nos primeiro tempos do sucesso do antidepressivo Prozac, uma das indicações possíveis era prevenir o luto. Isso quer dizer: meu pai está morrendo, então tomo os comprimidos de modo que eu possa passar com mais leveza pela morte dele. Os efeitos não são mágicos. Ninguém sai cantando e rindo atrás do caixão de alguém que amou, mas o pior é quando funciona!


Aí voltamos à questão do viver plenamente. As perdas fazem parte da vida e precisam ser vividas em toda sua intensidade. Não é necessário que se fique melancólico o resto de seus dias porque morreu o cachorro. Mas é necessário poder ficar triste, e triste mesmo, porque morreu o cachorro, pois há pessoas para quem os animais são membros da família. Se você coloca uma tampa química em sua dor, seja qual for, será mais nocivo porque algum dia esse sentimento de luto voltará de forma inesperada.

BF - Querer se livrar logo da dor pode prolongá-la.
CC - Uma das coisas que me chamaram a atenção aqui é a rapidez com que os mortos desaparecem. Por questões de higiene, em 24 horas acontece o velório e dá-se o enterro. Se alguém mora longe, não há tempo de chegar e a despedida fica mais difícil. Na Itália, os velórios são feitos em casa. São os filhos, ou os mais íntimos, que vestem o falecido e demora-se, no mínimo, dois dias até o funeral. Esse tempo é importante para a emoção e a realização da despedida. Quando meu pai morreu, foi assim. Eu estava nos Estados Unidos, cheguei no dia seguinte e fiquei conversando com ele durante a madrugada. Se não tivesse feito isso, teria chorado e sentido muito mais a ausência.


BF - Acreditar que há vida após a morte facilita a aceitação?
CC - A comunicação com os mortos feita no espiritismo alivia bastante a dor de quem fica. Mas não acredito muito que a idéia de vida após a morte funcione. A não ser para os budistas genuinamente orientais. Isso não vale para os convertidos. Para nós, ocidentais, mesmo acreditando em reencarnação, carma, paraíso, sempre existe a coexistência dessas idéias com a morte como ponto final. Entre as pessoas que conheci, não me pareceu que a religião fizesse diferença na maneira como lidaram com a morte, mas facilitou o luto.


BF - Já pensou o que faria se só tivesse um dia?
CC - Bom, acho que faria o que faço na rotina. Certamente, ter apenas um dia seria um problema porque minha família está espalhada, meus três filhos estão em vários cantos do mundo e em 24 horas não conseguiriam chegar aqui. Acho que eu ocuparia um tempo montando uma teleconferência para poder me despedir deles.


BF - Como no filme canadense Invasões Bárbaras, a tecnologia pode fazer bem nesse momento.
CC - É uma facilidade. Tentaria organizar isso e também uma forma, a carta talvez, de me despedir dos pacientes. Acho que o dever de quem morre - e até o prazer de quem morre - é encorajar os outros a viver da melhor maneira possível. Do ponto de vista dos prazeres, sairia na rua conversando com as pessoas. Em um dia, não escreveria testamento ou pediria empréstimos. (risos) O que não sei é se teria ânimo de transar. Será que tem clima?


BF - Sei lá, nunca passei por isso! (risos)
CC - Por ter viajado tanto, tenho uma certa prática com despedidas e, em geral, transar antes de ir para o aeroporto sempre foi péssimo.


BF - Então, você está vendo a morte como a última viagem?
CC - Claro. E nessa hora imagino que só transaria se tivesse clima e não porque o tempo está acabando. A transa não é higiênica, não é para libertar os pensamentos eróticos na hora de estar com são Pedro. (risos) Agora, sem dúvida, gostaria de estar perto da pessoa que amo.


BF - Jean Yves-Leloup, filósofo e teólogo francês, afirma que as pessoas não têm medo de morrer, e sim de amar. Quanto maior a entrega, maior a aceitação da morte. Concorda?
CC- Não. Do ponto de vista do amor romântico, não há entrega, pois quem ama idealiza o outro a seu modo e o acha maravilhoso porque tem a capacidade de se ver refletido nele. Dessa perspectiva, o sexo tem mais a ver com a entrega do que o amor. Talvez isso justifique o termo francês la petite mort (a pequena morte), cunhado (pelo escritor Georges Bataille, no começo do século 20) para definir o orgasmo. Aqui não é apenas uma experiência sensorial, mas o momento em que somos reduzidos ao corpo. Uma boa transa representa um certo apagamento de vergonha, pudor, nojo, limites, de traços do eu. O mesmo ocorre na morte.


BF - O que acha do medo do envelhecimento?
CC - É engraçado. Pessoas de 30, 40 anos acham que um corpo de 70 não pode ser erótico. Isso é falso, pois o corpo envelhecido pode ser desejável. E em qualquer idade, se você não acha seu corpo desejável, isso é um problema. Ouço cada vez mais homens detestando a transformação feminina, em que uma mulher de 50 anos têm uma máscara de porcelana sem as rugas próprias do amadurecimento. Essa busca pela imagem intocada, em homens e mulheres, tem mais a ver com a relação das mulheres com outras mulheres e dos homens com outros homens do que com os parceiros. Pior do que isso, acham que se tornar invejável por outros do mesmo gênero é mais importante do que ser desejável!


BF - O que você acha da tecnologia genética que permite saber quais serão nossas tendências a doenças e revelam, já nos primeiros anos de vida, as prováveis causas da morte?
CC - Acho que psicologicamente não muda nada, porque os componentes acidentais que influem na morte são inúmeros e imprevisíveis. Porém, do ponto de vista político, essa perspectiva é perigosa. Pois, se aos 14 anos você descobre que tem tendência a ter câncer de mama, por exemplo, o seguro-saúde pode cobrar mais. E isso pode dificultar que você arrume um emprego, já que será possível escolher funcionários que não apresentem o problema. É um fator de controle social preocupante.


BF - O que diria a quem está acompanhando alguém próximo da morte ou que está de luto?
CC - Acho que é o momento de pensar na vida que essa pessoa teve e tentar reconhecer o valor da experiência em si. Quanto ao luto, é preciso não evitar a despedida. Por exemplo, perdi minha mãe e, três meses depois, meu pai, ambos idosos. Meu irmão e eu ficamos 15 dias desfazendo a casa onde moraram por quase 50 anos. Achamos cartas escritas no tempo em que namoravam, muitas décadas de diários escritos por ele e descobrimos que houve uma separação da qual nunca desconfiamos. E muitos outros registros de quem foram e como tinham desfrutado bem da experiência de viver, que foi muito divertida e plena. Não havia o que lamentar. Ao contrário, a oportunidade de fazer o luto dessa forma nos deixou felizes, pois o foco não era mais nossa perda. É um grande alívio olhar a vida de quem morreu como uma experiência válida. Aliás, esta é a palavra que considero ideal para o leito de morte: "Valeu!"


[para Sergio Fonseca]

Sonhei que estava grávida, já nos dias de parir. Pé-de-pato mangalô três vezes.
"Outro dia, uma amiga minha me contou que terminou com o namorado porque ele mandou voltar o vinho num restaurante. O que parecia uma simples discussão etílica transformou-se num debate sobre a arte de aceitar as coisas tais como elas são. Minha amiga, entre elas. Avinagrou a relação. Desde então, quem quiser impressioná-la deve se abster de conhecimentos sobre a bebida. Quando o garçom chegar com a garrafa, o tal sujeito não deve perguntar sobre a safra nem sobre a qualidade da uva. Não deve bochechar ou procurar o aroma rodando a taça. Deve fazer OK e mandar servir. Só. Depois, olhar de volta para ela e continuar comentando o último filme do Tom Cruise, o CD do Lulu Santos ou elogiar seu novo par de brincos. Falar que o vestido lhe caiu bem. E que está linda, também. Na maioria das vezes - aí sim, diz a garota, o cara seria perfeito - o sujeito deve simplesmente pedir uma cerveja gelada.(...)"

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Hilário. Eu poderia ter sido a amiga da história.

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Continuando na carona do Programa, aqui tem dicas de etiqueta à mesa, nos restaurantes -- já que há quem goste de complicar o que deveria ser simples.


sábado, setembro 11, 2004

sempre que tento entrar no flog de alguém, hospedado no fotolog (sem link, sem link) é a mesma coisa: a página não carrega. Tento o refresh. Nada. Desisto.
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O multiply é frenético; fico angustiada por não conseguir acompanhar. O orkut é uma tartaruga e dá erro o tempo todo; me irrita por não conseguir ler, nem responder as mensagens.
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Ou ando muito mais chata que de costume ou realmente preciso de férias.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Alex, quando você parar de passar mal de tanto rir, marcamos nosso almoço. Saudades suas.

Cida, darlene que nada. Chapeuzinho rulez :o]

Sérgio, a história da chapeuzinho nunca foi a minha favorita... não lembro quem é comida: se ela ou a vovozinha. Mas vamos combinar que é muito mais emocionante e apelativo uma criança sofrer a babárie que uma velhinha. Crianças sempre comovem, derretem qualquer coração.
E se vivesse pra sempre... ah, correria pros braços do nêgo de novo. Mas deixa isso quieto, que não tem mais jeito.
Quanto à entrevista: coloquei no post um quadrado em cima do link (é que não sei o nome que isso tem: se você passar o mouse no link da entrevista e aguardar um segundo, vai aparecer um quadrado). Dentro desse quadrado está escrito que a senha do mês de setembro é harmonia. Funciona assim: você clica no link da entrevista. Abre uma outra janela. Clique em comprei a bons fluidos nas bancas. Vai abrir uma outra página, pedindo a senha: escreva harmonia. Finalmente a página com a entrevista vai abrir.
Harmonia é a senha de setembro. Infelizmente não serve pra todos os links do sítio.... tem algumas matérias que só sendo assinante mesmo :(
Amanhã eu copio a entrevista aqui.


A semana foi curtinha e tumultuada. Cheguei de Friburgo na terça (dã, isso vocês já sabem). Então, na quarta me arrumo pra trabalhar, desço, e... pqp, não acredito que arranharam meu carro de novo!. Pelo estrago, algum roda presa que não sabe calcular espaço pra manobra e esfregou o pára-choque do carro no meu celtinha amado. Respiro fundo. Agora não dá pra falar com o síndico, porteiro, com ninguém.
Na volta deixo recado, o síndico me liga rápido, diz que vai olhar. No dia seguinte mamãe vai caminhar com as vizinhas aqui do prédio (ela faz isso quase todo dia). Dentre as vizinhas andarilhas, a mulher do síndico, que tem uma língua que bate lá no meio das canelas. Mamãe comenta do arranhão. A linguaruda: Ah, eu vi o arranhado durante o feriado e tinha falado com L. (o síndico).
Mamãe me contou e fiquei enfurecida. Primeiro, porque ainda estava na tepeême, que mesmo leve, ainda deixa meus hormônios em ebulição. Segundo, porque quem arranhou o carro não me avisou (e ainda não sei quem foi). Terceiro, que se síndico já sabia, cáspita, deveria ter me avisado. Quarto, que se ele já sabia do arranhão, quando eu o avisei ele deveria ter dito o óbvio: que já sabia.
A sorte de todo o mundo é que mesmo de tepeême sou educada e [isto é incrível] controlada. Sorte maior ainda que só soube que o síndico já sabia depois de ter conversado com ele. (e quanto soube-sabia em poucas frases...)
De mais a mais, é como diz Thereza: merdas cagadas não voltam ao cu. E entenda isso como quiser.
Depois de dois dias, consigo falar com o síndico de novo. Vou mandar fazer o serviço em um rapaz aqui pertinho que não é careiro (além disso, eu tenho a tinta do carro -- sobra dos arranhões anteriores) e o condomínio é claro que vai me ressarcir.
+
Hoje, sexta-feira, dia corrido, complicado. Compromisso às 9 da manhã em Belford Roxo. Às 10 no Bairro da Luz, em Nova Iguaçu. Carona até a rodoviária, em Nova Iguaçu. Daqui em diante, ônibus. Meio-dia em ponto no Castelo (centro do Rio). Correria maior ainda porque tinha médico às duas e meia da tarde em Caxias. Em pouco mais de uma hora, fui no ex-escritório pegar documentos com duas secretárias (que todos aqueles mais de trinta advogados são uns imprestáveis, incapazes de resolver qualquer coisa pros próprios funcionários), fui no fórum, entreguei processo, protocolizei petição, almocei correndo no Golosità [dentro do fórum mesmo que não dava tempo de ir à lugar nenhum; e isso não é uma reclamação: lá é uma delícia]. Resumindo: não fiz metade das coisas que precisava porque sou pontual e às duas e meia tinha médico em Caxias.
Menezes Cortes - ônibus - duas em meia dentro do consultório do médico em Caxias. Mamãe, que tinha consulta logo depois de mim, já estava lá e tinha levado um outro par de sandálias [pedidas via celular -- ah, a vida moderna!] -- que as que eu estava usando me esfolavam viva. Consultório lotado. Pacientes aguardando; e pessoas aguardando pra fazer perícia também. Imagina se ele -- o médico -- faria a delicadeza de marcar perícia pra outro dia. Espero, espero, espero. Quase quatro da tarde chegam dois representantes de laboratório. Não estou acreditando, mãe. Quatro horas e nada.
Fui. Vai aonde, menina? Embora, não agüento mais. Você deve ser a próxima, aguarde mais um pouco. Não, mãe. Chega. Toda vez é isso. Toda vez espero mais de duas horas. Adoro Dr. Alberto, mas se fosse pra esperar tanto eu enfrentava fila do SUS, não perdia meu tempo aqui. Me espere lá embaixo, estou de carro. Fui, mãe. Não fico aqui nem mais um segundo.
E fui camelando* por mais de vinte minutos, vendo gente, lojas, promoções, espairecendo, pegando ar. Ainda esperei o ônibus chegar (era ponto final) mais de dez minutos. Sem perder o bom humor.
++
Nem preciso dizer que não volto mais lá. Depois de quase dez anos com o mesmo médico, minha paciência chegou ao fim. Me sintia desrespeitada por esperar mais de duas horas pra ser atendida toda vez que marcava consulta; e sempre chego na hora.
Problema com solução imediata: já liguei pra outro médico do celular, no meio da rua. Consulta marcada. Mais um ponto pra mim.
+++
E também não preciso dizer que quando cheguei em casa, mamãe já estava aqui. Há mais de meia hora. Te avisei que esse ônibus demorava... devia ter me esperado lá embaixo. Não, mãe, devia ter feito exatamente o que fiz: sair, andar, ver gente. Não me aborreço mais por causa disso.
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Tampouco preciso dizer que o médico mandou um presentinho pra mim: uma necessaire linda, linda, que uma das representantes de laboratório deixou por lá. É pra sua filha se acalmar (que claro que minha mãe falou que eu tinha levantado e ido embora; e é claro que foras duas necessaires: uma pra mim e uma pra mamãe).
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Claro que aceitei a necessaire. Já está até com coisinhas dentro, dentro da bolsa.
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É, hoje estou verborrágica. Não levem a mal.
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Tem gente que não me leva à sério. Namorados, principalmente. Vou falando que isso ou aquilo não está bem; não está legal. E vou levando. E dando um toque. E vou levando. Até que não dá mais. E chegar no meu limite pode ser rapidinho ou levar dez anos. Tanto faz. O fato é que quando chego no limite, ah, nêgo, não me leve à mal... fui.
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Nada como um dia feliz.

*andando. Que o ponto do ônibus é lá no caixa-prego, onde judas perdeu as cuecas.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Mensagem boba recebida por e-mail que eu a-do-rei:

Como cada veículo noticiaria a história de Chapeuzinho Vermelho:

CLÁUDIA
Como chegar na casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

MARIE-CLAIRE
"Na cama com um lobo e minha avó", relato de quem passou por essa experiência.

VEJA
"...Fulano de Tal, 32, o lenhador que retirou Chapeuzinho da
barriga do lobo, tem sido considerado um herói na região: 'O lobo estava dormindo, acho que não foi tão perigoso assim', admite ele."

FANTÁSTICO (Glória Maria)
"... que gracinha, gente, vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"

JORNAL NACIONAL
(William Bonner) "Boa noite. Uma menina de 7 anos foi devorada por um lobo na noite de ontem"
(Fátima Bernardes) "Mas graças à atuação de um lenhador, não houve uma tragédia".

CIDADE ALERTA (Datena)
"...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avózinha. Não tem
transporte público! Não tem transporte público!!! E foi devorada viva. Um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo não!"

JORNAL DO BRASIL
"Floresta: Garota é atacada por lobo"
Na matéria, a gente não fica sabendo onde, nem quando, nem mais
detalhes.

O GLOBO
"Retirada Viva da Barriga de um Lobo".
Na matéria, terá até mapa da região. O salvamento é mais
importante do que o ataque.

FOLHA DE SÃO PAULO
Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador".
Na matéria, teremos um box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos.

SEXY (ensaio fotográfico com Chapeuzinho)
"Essa garota matou um lobo!"

CARAS (ensaio fotográfico idem)
"Na banheira de hidromassagem na cabana da avozinha, em Campos do Jordão, Chapeuzinho reflete sobre os acontecimentos:
'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida, hoje sou outra pessoa', admite Chapeuzinho.

É com profundo pesar que comunico que minha impressora morreu, sem ao menos perguntar se era o momento adequado.
Espero a ressurreção no terceiro dia (só no sábado vou ter tempo de levá-la para o técnico) ou sou eu quem vai morrer -- em dinheiros, comprando uma bicha nova.

terça-feira, setembro 07, 2004

Friburgo, mato, bichos, Lumiar, amigos, São Pedro da Serra. Porque eu mereço.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Não sou muito de ver tevê, não tenho paciência e fico com a sensação de perda de tempo (já navegar na internet dispensa comentáarios). Mas hoje vó Maria estava aqui em casa e ela adooola tevê. Como ia começar o jornal nacional (escrevi "JN" e apaguei; é intimidade demais e se trata apenas de notícias embrulhadas pra presente, convenhamos). Hoje não. A primeira notícia foi sobre o sequestro das crianças e pais na Rússia. Fiquei chocada e chorei. Levantei logo, não tenho estômago pra isso.
Tive vergonha também. Vergonha que seres humanos, pessoas, sejam capazes de matar crianças e praticar tantos outros atos de crueldade. Chavão, sim: crianças inocentes. Sentimento piegas, talvez. E vergonha. Vergonha de ser tão humana quanto os sequestradores que estavam lá. Porque sei que sentimentos, ambições, convicções e fanatismos podem cegar. Medo porque todos estamos sujeitos a isso.
Em algum momento, todos tiveram vontade de matar alguém: pode ter sido aquela fechada no trânsito, o trabalho bem feito e não reconhecido pelo chefe, o moleque que bateu sua carteira, ou algo [muito] mais grave, não importa. O fato é que essa sanha veio e se foi; não passaram de pensamentos ou, no máximo, cinco minutos de fantasiando amarrar o sujeito e enchê-lo de bolachas.
E há pessoas que surtam -- e atacam. Ou estão tão lúcidas que resolvem chegar às últimas conseqüências.
*
Desejo harmonia.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Já disse em algum lugar por aqui que assino Vida Simples; todo mês compro a Bons Fluidos. Também não sei porque não faço a assinatura, sairia mais barato. Só que tem o aspecto psicológico: 8,50 por mês não pesam.
E essa volta ao mundo pra chegar aqui: entrevista sobre um tema delicado [morte] com Contardo Calligaris, psicólogo italiano, colunista da Folha, renomado até o último fio de seus charmosos cabelos grisalhos.
Antes da entrevista propriamente dita, como de praxe, tem uma introdução que termina com uma pergunta do entrevistado: "O que você não deixaria de fazer se vivesse para sempre?"
Levei um choque.
Tentando esconder o óbvio penso que isso é só tepeême, só tepeême.


[post editado em 02/09]
pensamentos soltos... inacabados... reticentes... a imaginação vem ocupar o vazio das palavras... misturar-se ao emaranhado da mensagem... significados novos... ou ocultos... e um cansaço crônico quando todos as frases acabam sem ter tido um fim... reticentes... desconexas... frouxas... policiamento ou tudo acaba por ser um (re)fluxo de pensamentos... reticentes...
Muitas vezes reclamo da correira da vida; dos prazos; das audiências em horários "impróprios"; reclamo mais ainda de ter dinheiro hoje e não saber quando terei de novo; reclamo (pouco) dos clientes malas que arrumo (se fosse terpauta, diagnosticaria T.O.C. em pelo menos meia dúzia de quatro ou cinco).
E existe um outro lado que adoooooolo: liberdade de poder chegar mais tarde ou sair um pouco mais cedo. Eventualmente, ir à praia numa segunda-feira de tarde (tá certo, tem tempo que não faço isso).
Não sou fã de trabalhista, é uma mesmice sem fim. Se por um lado facilita (não preciso "pensar" pra atender os clientes, fazer petições e audiências), por outro é muito chato não ter novidades. Sorte não ter muitas ações trabalhistas. E o que isso tem a ver com que estava escrevendo nos parágrafos anteriores? Ironia das ironias, nada tem me dado mais prazer. Não pelas peitções/audiências, que continuam as mesmas. Mas pelo TRT ter se mudado de mala e cuia pra Rua do Lavradio, ali do lado da Catedral. Todo semana é a mesma coisa: saio de lá e vou bisbilhotar os antiquários. Tudo carésimo. E daí? Quem disse que é preciso comprar aquelas cousas maravilhosas para me deliciar e divertir? Com exceção de uma loja grande, no número 106, onde tem um homem grosso toda vida, (não passem lá! quando não sou bem tratada faço propraganda contra mesmo) nas outras, os donos e os funcionários são quase todos senhorezinhos ou senhorazinhas muito simpáticos, que adoram quando se pergunta pela história de um dos móveis ou de um objetos qualquer; a conversa vira uma aula de história da arte -- nessas andanças descobri que sou fascinada por abajoures (<--- como é o plural de abajour?).
No primeiro sábado do mês tem feira até às 17h (em setembro é no próximo sábado, dia 04/09) e show de chorinho na rua. Vou assuntar a respeito do horário do show e conto pra vocês.
E lá não tem só o TRT e antiquários: tem uns botecos, bem cospe-grosso mesmo e uns restaurantes pequenos bacanudos.