casa da lulu

sábado, setembro 18, 2004

Essa semana tinha uma matéria numa dessas páginas do msn dizendo que os jovens estão solteiros por opção [e aparentemente felizes], que isso é uma tendência mundial, irreversível, crescendo a cada ano. Vários depoimentos. Solteiros convictos, não ao casamento, namoros apenas eventuais. Não consegui encontrar a matéria de novo, tsc. Alguém já fez comentário sobre essa matéria em algum blog; não lembro qual foi, desculpe.
[editado: foi a Giorgia, lembrei]
[editado novamente: a matéria é essa aqui]
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Quinta-feira fiz um comentário bobo e ouvi isso desse moço: qual o seu problema com meiguice?
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Pensando sobre o texto e a pergunta, vejo que preciso deixar algumas coisas bem claras pra mim mesma. E, dentre outras coisas, um blog também serve pra isso: clarear a mente, ampliar horizontes. Mas isso é assunto pra outro post.
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Não tenho problemas com meiguice.
Sou mais meiga que gostaria e menos do que poderia. Isso é bom e ruim. Estranho, né?
O ruim é que me sinto menos forte, menos decidida e menos madura por ser assim. Sensação de fragilidade. Embora saiba que muitos dos que possuem essas qualidades sejam ternos, gentis, meigos.
Aí fico com os olhos marejados vendo Camila e Pinck dormindo. Ou fico parada no meio da rua babando por um ipê florido ou uma maria-sem-vergonha na beira de uma calçada. E me dá uma saudade de ir à São Paulo nessa época, com dezenas de árvores e flores floridas pelo caminho, um arco-íris de emoções. E lembro de tantos bons momentos, dos meus amigos, minha família, Friburgo, das risadas, confidências, aquele amor calado no fundo do peito.
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Uma mísera flor faz meu mundo girar.
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Poderia ser mais meiga. Se fosse, seria mulherzinha total. Falta coragem.
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Mulheres foram submissas por milênios. Todo blablablá que sabemos de cor. Revolução dos costumes, valores trocados [por quais mesmo?]
Tá certo, submissão é uó, ser amélia total é impensável. Nada de depender de ninguém, muito menos da boa vontade do marido.
O que não quer dizer que eu queira ser solteira. Estou solteira, é diferente.
Como uma entresafra.
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Porque gosto de gostar, de estar apaixonada, de amar; andar de mãos dadas, apreciar o pôr-do-sol, ligar no final do dia pra saber como foi aquela reunião; tomar banho juntos, cafuné nos cabelos, dormir colherinha; assistir um filme, conversar potoca*. Dançar agarradinho na penumbra da sala aquela música que parece ter sido feita só pra nós dois.
E casar. Sim, ca-sar. Aquela convenção social cafona e demodè. E aquela cerimônia linda, onde se celebra o amor, a união, a felicidade e esperanças de um vida longa, harmoniosa e feliz.
E uma casa grande, com quintal e jardim. Ou pequenina, com muito espaço para sonhar.
Ipê roxo e flamboyant perto da garagem; coqueiro do lado do portão; o bouganville (se escreve assim?) nos fundos, perto da porta da cozinha. E ter o prazer de bordar a cortina da sala e as almofadas do sofá. Colher uma rosa pro vaso da sala e uma margarida pro quarto.
Receber os amigos, fazer churrasco com farofa e maionese, um fondue nos dias mais frios.
E filhos. Ah, crianças. Correndo pela casa, fazendo bagunça, me enlouquecendo com as notas do colégio, brincando de viver e ser feliz. Risadas dando piruetas no ar, enchendo a casa de alegria. E descobrir que Pedro (ou Antônio ou Rafael) tem o sorriso encantador do pai; e Manuela (ou Beatriz ou Carolina) tem o andar do avô.
E daqui a muitos anos quando crescerem e tiverem também seus filhos, construir um par de balanços e admirar os netos brincando, num eterno recomeçar.
Envelhecer juntos, comemorar bodas de ouro; depois, de diamantes. (Re)escolher aquele amor e felicidade, com todas as suas dificuldades, a cada dia.
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De que me adianta tanta liberdade, independência e o escambau sem isso?
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Antiquada ou retrógrada, ah, o título não me importa. É exatamente isso o que quero. Claro que o roteiro pode ser adaptado. A essência permanece; porque sou assim - é minha natureza mais profunda e genuína.


*expressão deliciosa da xará de blog Luciana; estava só esperando a oportunidade de usar :o)