casa da lulu: conversão

sábado, outubro 15, 2005

conversão

um cara mala, muuuito mala chegou como quem não quer nada, cerca-lourenço e tentou converter a m. e eu. detesto isso, com todas as minhas forças eu detesto isso. o cristianismo perde o brilho pra mim quando cristãos tentam converter outras pessoas. veja bem, o cara sim, era evangélico. mas poderia ser católico, não importa. que os cristãos se arvoram o direito de sair por aí pregando e convertendo os outros.

no mínimo, é muita falta de educação. no mínimo, porque é muito mais que isso. falta respeito pelas diferenças. não tô falando de tolerância, não, que quando se tolera, apenas se suporta uma determinada situação pra não se aborrecer. respeito é diferente: você não concorda, tem uma opinião diversa e ainda assim entende que outras pessoas têm pontos de vista distintos e nem por isso estão erradas; eu no meu espaço, você, no seu. isso é respeito.

eu não quero ser convertida. no dia que sentir necessidade entro numa igreja qualquer e peço orientação, faço votos, viro freira, caso com um pastor.

tá, isso tá fora de contexto porque eu não contei a história toda. veja bem, ontem eu fui à praia no final da tarde colocar rosa no mar. isso é problema meu, certo? parece que não. porque o tar não se conteve e veio falar comigo e com m. pra começar ele se apresentou pelo sobrenome. como assim alguém se apresenta olá, meu nome é bragança, posso falar com vocês um minuto?. claro que não era bragança, era um sobrenome comum, mas um sobrenome. nego não se chama mais marcelo, joaquim, pedro, joão? estou com um problema tão sério, será que vocês não poderiam me ajudar? e ele tinha olhos de quem tinha um problema muito sério. eu fiquei com pena, que sou uma tola, tenho pena de um tudo nessa vida. mas que tipo de ajuda? eu vi você rezar no mar, você não poderia me dizer o que fazer, onde ir? não tenho como fazer isso, você tem que procurar orientação e ter fé. fé é essencial. sem fé, nada do que fizer vai jamais funcionar. e ele disse que é professor, trabalha com turismo e hotelaria, orienta jovens num narcóticos anônimos da vida. vocês são irmãs de algum centro? participam de alguma coisa? não. e aí minha ficha caiu: somos macumbeiras, certo? por isso tu vei falar com a gente, peste. ele insistiu muito que indicássemos algum lugar e m. indicou o nyingma na fonte da saudade [me deu tanta vontade de rir quando ela falou isso; o intruso queria que indicássemos um terreiro e ela indicou o budismo. eu amo muito a m. quando ela tem essas sacadas]. e ele desandou a falar de jesus. e eu fiquei com muito ódio dele e eu odeio odiar, é algo que me faz mal. que ele veio com uma desculpa besta pra nos converter, porque macumbeiros são adoradores do demônio e precisam de conversão, né? muito por um acaso, não sou nem da umbanda nem do candomblé. mas é muito por um acaso mesmo, que é lindo demais, embora minha restrição com o candomblé seja o sacrifício de animais. aí fiquei com muita vontade de falar pra ele que eu era macumbeira, sim, e além disso uma bruxa poderossíma, adoradora do diabo. e que se ele não saísse dali eu ia jogar um feitiço e uma macumba tão fodas que o pinto dele ia cair. mas mamãe me ensinou a ter paciência com velhos, crianças e doidos. modos que fervi por dentro e não falei. e no final ele perguntou se poderia fazer uma oração, e eu e m. ainda falamos amém no final.

eu devo merecer essas coisas. que, veja bem, eu, macumbeira (...) nunca experimentei droga alguma, raramente bebo, não fumo. ele, tão cristão, tão correto, foi ou é, sei lá, um chincheiro da porra, com aqueles olhos vermelhos, aquela cara de bebum. e ainda fala mal de outros cristãos, que católicos não lêem a bíblia. peralá, que eu sempre li muito a bíblia. é, e nem todo evangélico lê, né?, ele disse sem graça.

a raiva era tanta na hora que só depois a ficha caiu: é muita cara dura ir falar com duas desconhecidas, jogando um caô brabo, pra ver se elas falam que são macumbeiras pra poder começar a conversão. é falta de caráter. é falta de simancol, é falta de tudo. se eu estivesse na zona sul, teria chamado um policial ou um guarda-vida pra tirar o elemento da minha frente, seu policial, esse homem tá me perturbando, o senhor poderia tirá-lo daqui, faizfavô?.

eu já perdi as contas de quantas vezes já disse nessa casa que, cara, eu não quero ser convertida, simplesmente não quero. podem falar sobre a religião que quiserem, o deus, a entidade, a deidade que quiserem: jesus, maomé, buda, orixás, shiva, tá beleza, acho tudo e todos lindos demais. mas não tentem me converter que viro bicho. é motivo suficiente preu nunca mais sequer olhar pra pessoa. vá cuidar de seu próprio rabo, dos seus inúmeros problemas e deixe as outras pessas em paz. não tem o que fazer? vá varrer o quintal, lavar o banheiro, ler um livro, olhar o céu, ajudar numa creche, sei lá. mas não perturbe as outras pessoas.

e não me digam também que isso foi um caso isolado porque NÃO foi. eu sei que não foi e você também sabe que não foi. cristãos fazem isso o tempo todo. e tem todo esse preconceito contra a umbanda e o candomblé. qualquer dia vou perguntar se lhes faltam culhões pra ir até lá conhecer.

o cristianismo é um precipício pra mim.