casa da lulu

quinta-feira, março 10, 2005

quando a a esmola (ou a felicidade) é demais... [ou tem sempre um filhodaputa pra estragar a felicidade alheia]
voltava eu, linda, loura e japonesa da faculdade e lá pelo vão central da ponte um fox prata apressado e gruda atrás. não dava pra sair, havia uma fila de caminhões na pista do meio. quando ultrapassava o último caminhão, vi, pelo retrovisor, que o fofo do fox ia cortar pela direita.
não só cortou como ao cortar ficou me encarando com aquela cara que vocês conhecem, não preciso descrever. fiz uma careta e o cara passou pra minha frente. começou o show de horror. gestos obcenos mil. não satisfeito, deu seta pra a direita mas não mudou de pista. em vez disso, diminuiu a velocidade (e eu atrás, que não corto louco), e foi diminuindo (e eu atrás, que não corto louco) e diminuindo (tive que ligar o alerta). mais gestos obcenos (e eu atrás, que não corto louco), e diminuiu até parar. saca que o cara parou o carro na pista de velocidade da ponte???
sabia que tudo ia piorar. ele abriu a porta. meu coração pulou, foi parar na boca. fodeu, não tô vendo a arma [ainda], mas sei que vou morrer. não tinha como sair dali, tinha um giga caminhão parado atrás, muito grudado, não dava pra manobrar. o cara do fox se abaixou do lado do carro, fez um gesto com a mao e abaixa a janela . nem fodendo, pensei. usei a única arma que me sobrou: sarcasmo. sorri e neguei, balançando a cabeça. você é uma vaca, vagabunda. sorri e "obrigada".
o cara deu um soco na janela, mas tão forte, tão forte, que não sei como a janela continuou lá sem quebrar.
fiquei em choque. por dois segundos não sabia o que estava acontecendo; será que morri? não, to vendo o cara voltar pro carro e seguir.
fiquei com raiva de mim mesma por não ter evitado a situação, por nunca saber o que fazer quando essas coisas acontecem, por ter ficado tão nervosa que sequer vi qual era a placa do carro, por ter tido vontade de chorar copiosamente.
não chorei.
respirei fundo, engatei a primeira e o carro não foi, esqueci do freio de mão. vi que além dos carros parados atrás, havia carros parados na pista do meio, provavelmente pensando que havia sido uma batida ou coisa assim. ah, sei lá o que pensaram, a essa altura nem me interessava mais.
eu pensava nas razões, se é que pode haver alguma, prum cara que não levou uma fechada, não teve seu carro arranahdo, não foi xingado, a parar o carro numa pista de velocidade em via expressa e falar improprérios pra uma desconhecida e esmurrar o vidro do carro alheio.
a raiva é péssima conselheira, desejei justiça instantânea, com pena de morte pro desinsfeliz.
ponderei muita coisa no caminho. sei que só estou viva porque o cara do fox não tinha uma arma consigo. se tivesse com certeza, certeza mesmo, ele teria me matado à uma hora da tarde, no meio da ponte.
depois, que se o tivesse encontrado em outro local, numa outra situação jamais pensaria que um homem de uns cinqüenta e poucos anos, forte, alto, branco, bem vestido, com relógio caro, óculos de sol importado, domo de um carro novo (só me dei conta dessas coisas relembrando o aconticido), então, jamais, apenas olhando pra ele, que uma pessoa assim pudesse ser capaz de me agredir.
preciso rever meus conceitos.

e continuo me sentindo assim, agredida.