casa da lulu

quarta-feira, agosto 11, 2004

ontem, seis da tarde, o celular toca. É minha amiga-mais-que-irmã:
Lu, recebeu minha mensagem?
Não. Quer dizer não sei, o celular estava dentro da bolsa. O que foi?
Depois você vê. Deixa eu te contar outra coisa
[aí recebi uma notícia ótima, depois eu conto com calma]

*
Desliguei e fui ler a mensagem "10 ago 2004 17:47 amiga escapei de um seqüestro hj, foi horrível. Não se esqueça q te adoro, se cuida. Bjs". Fiquei tão mas tão nervosa que não conseguia ligar de volta, não achava o nome dela na agenda do celular, quando achei ou dava fora de área ou ocupado (e eu não sabia se eu estava louca ou o celular estava curtindo uma comigo). Troquei o celular pelo telefone fixo e demorei até consegui fazer o interurbano, os dedos tremiam e apertava tecla errada. Até que finalmente consegui falar com ela. Um susto horrível. Nos falamos rápido, o celular dela tocou, era o irmão. Liguei mais tarde e mais detalhes sobre o ocorrido.
É horrível quando a violência chega tão perto de quem amamos. Porque se acontece alguma coisa quem amo, eu nem sei. Fiquei com uma sensação esquisita, um amargo na boca e no coração, me sentindo impotente, sem ter o que fazer, sem saber o que falar. O quase-acontecido foi no início de tarde, numa rua movimentada de São Paulo. Não saia de noite, não passe por bocada, só ande com o vidro levantado não adianta mais. Ao mesmo tempo que é preciso cercar-se de um monte de cuidados não se pode parar de viver e ficar socada dentro de casa.
Não quero discutir política aqui, dizer que o governo tal e qual é responsável ou não. É uma visão muito simplista do problema que passa por cada um de nós. Ou você vai dizer que só eu sinto medo quando vejo um morador de rua vir falar comigo de noite? Ou quando um garoto pede um trocado no sinal? Os sentimentos, na verdade, ficam misturados: medo, pena daquela pessoa estar naquela situação, votande de ajudar, impotência diante da cena. Ainda que eu dê todo o dinheiro que trago na carteira (e que nunca é muito, no máximo 30 reais, que não gosto de andar com dindim) não vai resolver o problema daquela pessoa. E não resolvendo o problema de uma forma, aquela pessoa pode tentar resolver de outra. E ao invés de pedir um troco ou um prato de comida, vai me assaltar; seqüestrar alguém que amo; ou coisa aqinda pior, que não quero nem pensar.
E se o problema passa por cada um de nós a solução, também. E merece um outro post, só pra ela.