casa da lulu

segunda-feira, março 08, 2004

Quando mais nova detestava rosa (a cor), perfumes femininos adocicados, laços, penduricalhos, babados, franjas e outras coisas tipicamente de mulherzinha. Gostava de roupas, acessórios, maquiagem, lugares quase minimalistas, se bem que nunca consegui ser minimalista, pelo menos em ambientes. Sempre tive muitos livros, revistas, papéis, sapatos, roupas e vários outros objetos que simplesmente se negavam a ficar em seus lugares. Aprendi a conviver no meio do turbilhão que eu mesma criei, mesmo tendo como referência outros padrões.Isso é minha cara. Impossível Lulu minimalista, não consigo.
Até hoje não sei como sobrevivi aos anos 80 - sim, também usei calças santropeito, semi-baggy [como se escreve isso?] e, mesmo criança, minha mãe - sem discernimento algum, coitada - prendia meu cabelo à la viúva Porcina. Hoje quando revejo as fotos fico num misto de riso e vergonha.
Onde estávamos todas (e todos) com a cabeça?
Anos 90: bem mais razoáveis, bonitos visualmente, embora grande parte descolorido e sem sal, às vezes (tons pastéis, cores neutras, cortes senão propriamente retos, ao menos sóbrios). O que não me livrou de começar a rever meus conceitos e, lá pelos idos de 1997 (+ -) comprar - e me deixar ser fotografada, ó deus!, com uma calça de cintura baixa cor de rosa. Sim, isso deve ter sido sinal dos tempos. Como alguém que a vida toda de-tes-tou rosa compra uma calça rosa e a usa com muita freqüência?
Ocasionalmente vieram outras peças rosas ao meu guarda-roupa; todas compradas por mim. Sabendo da minha aversão (?) à cor ninguém ousava me presentear com seja-lá-o-que-fosse rosa.
Na época de pintar a casa cismei que queria meu quarto pintado de outra cor: salmão. Medo. Achei que não fosse gostar, que iria enjoar da cor; quase rosa, afinal. Ah, mas nessa época já gostava, embora até hoje não entenda direito, cromoterapia, florais, meditação, harmonização. Na dúvia, optei por uma cor que até então achava sem graça alguma: verde.
Mas nada de verde brilhante, musgo, alface (meninos, será que vcs entendem essas variações?). O tom escolhido foi um verde muito muito suave, com muito mais branco que verde.
AMEI.
Em contraste com meu móveis de madeira escura ficou maravilhoso. Para arrematar, persianas areia.
Verde se tornou minha cor favorita para objetos. Perfeita para casa e o que a guarnece.
Ano passado fui convidada pra fazer um curso de auto-maquiagem, patrocinado por uma empresa de cosméticos, desses rapidinhos, de umas duas horas. Descobri que minha harmonia é fria e, por isso, a promotora sugeriu tons de rosa. Pânico. Falei que não gostava de rosa, que iria ficar horrorosa, com cara de palhaço. "Vc vai gosta, confia em mim".
Ficou lindo! Nem acreditei que aquela sombra em dois tons suaves de rosa, com blush rosa, batom rosinha ficaram lindos.
Depois disso, joguei a toalha.
Assumi a mulherzinha que existe dentro de mim: hoje tenho peças coloridas no guarda-roupas (verdes, rosas, azuis, amarelos, estampados miúdos floridos), uma necessaire l-o-t-a-d-a de maquiagem, sem espaço pra nem um lápis de lábios, perfumes.
Perfume merece uma anotação à parte: vira e mexe ganho perfume, seja de vovó, mamãe, um namorado, de aniversário. Ou compro. Nunca comprei muitos pq são absurdamente caros.
E quase não usava perfume. Quase não usava, pq depois de contar que estou com 7 (SETE) perfumes diferentes, todo dia escolho um e passo. É uma questão de honra.

*

Tudo isso pq hoje cheguei à conclusão que aos poucos minha visão de mundo mudou (isso soa marxista, mas é de araque). A razão? Talvez por estar mais velha; talvez tenha sido influenciada pela mídia, poderosa como sempre. Com certeza por ter me permitido mudar e estar aberta a outros pontos de vista, ponderar pontos de vista e ter passado a ver a vida com lentes coloridas.