casa da lulu

domingo, dezembro 14, 2003

(...) Cada uma de nossas pequenas escolhas faz a vida ser do jeito que é. E escolhemos sofrer, fazer da vida um fardo -- ou não. Escolhemos nos aborrecer ou não esquenetar a cabeça.

Claro que falar assim é fácil. Certas coisas não podemos mudar e não estou falando apenas de acontecimentos alheios a nossa vontade ou coisas que não podemos mudar. Nosso humor, nossas atitudes, convicções são difíceis de serem mudadas e muitas vezes não queremos mudá-las, e não há nada de errado nisso.

No entanto, podemos suavizá-las. Deve ser isso que chamam de amadurecimento: quando passamos a nos conhecer melhor e com isso saber o que vai nos atingir, como nos desviarmos disso e, quando for inevitável, sofrer o menos possível, passar pela situação sem grandes traumas.

O passado é história, ficou pra trás e só sobrevive em memória, ainda que seja através de fotos, cartas, etc. O presente e o futuro são construídos como disse lá em cima: com pequenas escolhas. Ligarou não ligar, me aborrecer ou não me aborrecer, sofrer o unão sofrer.

Essa parte do sofrer ou não sofrer é complicada, falo isso com convicção. "Meus" últimos dias têm me mostrado isso, mas procuro não me entregar: quando dói simplesmente deixo doer, mas tenho muito claro que vai passar e que não preciso me desesperar; já passou uma vez e, com certeza vai passar de novo e quantas vezes forem necessárias. Escolhi sentir dessa forma, ser lúcida o suficiente pra ver o que estava me fazendo mal, com o que não estava satisfeita e dar uma virada, mesmo que às custas de meu sofrimento. Tudo são escolhas, afinal. E ser adulto é sinistro, muitas vezes. Nem sempre queremos escolher, pq ninguém quer dor e sofrimento. Mas eles fazem parte da vida e temos que aprender a conviver com eles -- e com nós mesmo.

Tenho dúvidas e vontades que me enlouquecem. A cabeça quer uma coisa e o coração, outra. Na dúvida, tenho tentado ser racional, o que exige um esforço sobre-humano, sempre fui passional, emotiva.

Não quero ser a dona da verdade, dizer que eu estou certa e que todos devem agir assim, nada disso. O que estou tentando te dizer, não sei se consegui, é que mudar é possível, embora seja difícil, faça doer. É preciso conhecer nossos limites, surpreender a nós mesmo. No caminho que escolhi percorrer, me surpreendo com minhas atitudes a quase todo instante e com meus pensamentos.

E tenho procurado observar coisas simples, cotidianas e tenho ficado feliz com elas. Um dia lindo de sol; uma estrela brilhando sozinha, lá no infinito; a chuva caindo de vagar na janela do carro, parecendo pingos de diamantes; os passarinhos que cantam antes das 6 da manhã na minha janela...

A vida fica leve assim ou ao menos menos pesada que o habitual.

E me ocupo. Estou sempre atarefada, com muitas coisas pra fazer, me inscrevendo em cursos, procurando meus amigos. Não tenho muitos, mas procuro cultivar as amizades e fazer amizades novas. Sim, também escolhemos fazer amigos ou não. (...)


[Longo trecho de uma mensangem escrita a F, um amigo querido]